sexta-feira, 11 de maio de 2007

Papo de antropólogo urbano

Conhece o "você sabe com quem está falando?" de quem opta pelo mundo do crime? É a hora que ele aponta um 38 velho pra sua cara. Diferente do playboy que pergunta "você sabe com quem está falando?" porque tem um parente endinheirado e/ou influente que, tacitamente, endossa qualquer atitude do FDP.

O "você sabe com quem está falando?" do bandido é tão efetivo quanto o do playboy, já que jiu-jitsu nenhum torna o corpo imune à bala, obviamente. A diferença é que, para o bandido, o que transforma o playboy em vítima em potencial é exatamente o "você sabe com quem está falando?" dele. O playboy tem, o bandido quer.

Eu aprendi isso em quatro anos como pesquisador no Setor P-Sul. Os caras vão "pros trabalho", vão "trabalhar". Isso é posição e situação de classe. Eu não estou falando de pobre e rico, mas de bandido e alvo. Nem todo pobre é bandido, claro. Nem todo alvo é rico. O alvo é quem está no lugar errado e na hora errada. O encontro entre os dois mundos engendra uma "negociação da realidade". O resto do mundo pára. É só você e ele, e você vai perder. Afinal, você sabe com quem está falando?

Como diz o Mano Brown, "a senzala avisou, mauricinho agora paga o preço". Ou, referindo-se a um contexto bem distinto, como diz a Tracy Chapman, "choose sides or run for your life".

Um comentário:

Davi Drummond disse...

isso me lembra os meus 14 anos, quando o carinha de bicicleta "comprou" meu boné com seu 38. nunca mais o vi, nem o carinha, nem o boné.