sexta-feira, 8 de maio de 2009

O emprego mais idiota do mundo

Minha intolerância dificulta todas as relações sociais que estabeleço. Mesmo admitindo que "todos têm suas próprias razões", como cantava Renato Russo, quando se constata que a intolerância é a arma mais eficaz contra o vazio que a maioria das pessoas afirmam no dia-a-dia, tanto em palavras (ou falta delas) quanto nas atitudes, percebe-se o quanto é inglório não ser intolerante.

Não entendeu nada? Então vou explicar com um exemplo factual. Há alguns anos, a interatividade na televisão brasileira desenvolveu-se com programas como o global Você Decide. Paralelamente, a sociedade do espetáculo inventou o Big Brother, reality show que apresenta as misérias da condição humana 24 horas por dia, com participantes quase até mais vazios que seus telespectadores. Em última instância, todo e qualquer reality show trata-se da coisificação catódica da própria condição humana, entendida em uma relação dialética com o mundo capitalista: quem não consome, não é consumido.

Sim, o emprego mais idiota do mundo é o de celebridade vazia. O idiota que vende na TV a imagem que constrói de si, seja na academia ou na clínica de medicina estética. Ou em ambas. Recentemente, milhares de idiotas, candidatos a idiota-mor, tornaram-se artífices de mais um espetáculo vazio para pessoas vazias: candidataram-se ao cargo de zelador de uma ilha que ninguém nunca tinha ouvido falar, em um país que serve para pouca coisa, para além do darwinismo.

Ah, claro, Grande Barreira de Corais! Quem assistiu ao desenho animado Procurando Nemo sabe do que se trata. Mas do que se trata esse emprego? Para além da sociedade do espetáculo, nada! Afinal, é auto-promoção coletiva, em sentido estrito. Auto-promoveram-se, ou pelo menos tentaram, todos os idiotas mundo afora que participaram da seleção para zelador, autoridades do Governo local e, claro, a mídia. Aliás parece que nada existe, hoje em dia, se não está na televisão ou na Internet.

Um idiota, agora, vai se tornar "zelador" da tal ilha por seis meses, sob a condição de manter um blog e conceder entrevistas. E daqui a seis meses, na certa, mais auto-promoção. Pessoas vazias de todo mundo, participem!

E confirmem a acurácia da minha leitura do real.

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