Mais um conto adolescente...
Minha
cabeça chacoalha involuntariamente enquanto ouço o baixo pesado de Les Claypool
em “The Family and the Fishing Net”. Mas isto já não me faz mais lembrar
você.
Só
penso em lembrar dos seus olhos, nada mais. Nada. Seus olhos sempre exprimiram
a grandiloqüência da convicção. Eram quase espirituais...
Nem
todas as lembranças se apagam. Algumas são como tatuagens. Eternizadas.
Geralmente as muito boas e as terrivelmente más. É notável o antagonismo entre
elas, mas são as que ficam. Por si só, extremadas.
Lembro
do seu extremismo. Era algo que sempre deixava você um passo a frente de todos.
Um passo e um tombo a frente dos outros. Mas você era boa sob pressão, tinha
tudo sob controle. Até demais...
Então
não devo mais desejar? Não. Mas não posso esquecer. Você sempre foi a dona da
situação. Você.
Sobrou
em mim uma ferida feita na carne, um pensamento até involuntário, uma saudade
atroz, uma mordaça no meu espírito. Alguma melodia triste de algo que não
consegue se lembrar minha memória fatigada. Talvez uma quase determinação em
acreditar que nem tudo é ao contrário.
Você
sempre teve a faca e o queijo na mão...
01-99
(Brasília - Distrito Federal)