
Os gregos inventaram o conceito. Os jogos olímpicos, a filosofia e o teatro também. Na Antigüidade, as prostitutas gregas, talvez por saber que a propaganda era a alma do negócio, desenvolveram uma das mais antigas campanhas publicitárias de que se tem notícia: ΑΚΟΛΟΥΘΙ, o "Segue-me" que as solas de suas sandálias imprimiam no chão, facilitando a vida de fornecedoras e consumidores do serviço.
Grécias em chamas
Há cinco dias, jovens gregos insurgiram-se contra o status quo e têm enfrentado a Polícia nas ruas depois que um integrante de uma tropa de elite matou um estudante. O policial assassino foi indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar, e seu parceiro como cúmplice. Em outros países da Europa, em representações diplomáticas gregas, também aconteceram atos de repúdio ao assassinato cometido em nome do Estado grego. Agora, os manifestantes querem a renúncia do Primeiro-Ministro.
Brasil: o país do futebol
No Brasil, há três dias acabou o campeonato brasileiro de futebol. Meu time ficou em terceiro lugar. O jogo decisivo do campeonato por pontos corridos mais disputado a que assisti - tenho 30 anos - aconteceu entre o São Paulo e o Goiás, no recém-inaugurado estádio do Gama, que fica na região administrativa homônima, aqui em Brasília. Alguns dias antes do jogo, quando um colega, em sala de aula, comentou que o ingresso custaria 400 reais, quase um salário-mínimo, fui descobrir na Internet o porquê. Não era coisa do governador Arruda, afinal, e sim da diretoria do Goiás. Obviamente, não tinha razões nem recursos para ir ao jogo e não fui.
Acontece que, numa fatalidade daquelas em que só quem usa uma arma de fogo pode incorrer, um sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) deu uma coronhada na nuca de um torcedor são-paulino. O agente do Estado, no exercício de suas funções, com o dedo no gatilho e o cão armado, baleou na cabeça o torcedor que viajara de São Paulo a Brasília e pagara o ingresso exorbitante para assistir ao jogo decisivo. Agora, ele está em estado gravíssimo no Hospital de Base, onde mataram o Tancredo Neves em 1985. Deus o livre, coitado!
Fire in the hole!
Enquanto o torcedor corre risco de morte no maior hospital público do DF, em que pacientes quase sempre agonizam por horas à espera de tratamento, a advogada do policial militar já conseguiu a liberdade provisória de seu cliente. O sargento, que em 20 anos de carreira policial militar fez quatro cursos de aperfeiçoamento no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PMDF - o que, presumivelmente, lhe dá ainda mais credibilidade para a consecução de suas atividades policiais - desenvolve agora apenas funções administrativas no quartel.
A televisão transmitiu a tragédia, claro. No ápice da encenação, o governador Arruda sublimou o acontecido. Ele quer é Brasília como sede da Copa do Mundo de 2014.
Nós, brasileiros de qualquer lugar, ainda temos muito o que aprender com os gregos sobre a democracia e sobre nós mesmos.