segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Vida de barnabé

Amanhã, dia 27 de fevereiro, o CESPE divulga a lista dos aprovados no Teste de Pré-Seleção (TPS) do Instituto Rio Branco, primeira fase do concurso de admissão à carreira diplomática. E eu, que sempre menosprezei as chamadas relações exteriores e nunca havia pensado, por conseguinte, em submeter-me a tal prova, hoje espero ansioso pela divulgação do resultado.

Se passar, a radicalização do desafio é inquestionável. E como estou nessa mesmo (quase) pelo desafio apenas, não tenho nada a perder...

Quer dizer, além dos cem reais da inscrição, claro!

Mas eis que me aflige uma questão. Por que o serviço público é tido como a melhor opção de um acesso digno ao mercado de trabalho aqui em Brasília? Senão a única. Afinal, quem está disposto a trabalhar oito horas por dia por menos de 1000 reais? Quem se submete a trabalhar na iniciativa privada, sem carteira assinada nem vínculo empregatício formal, privado dos direitos trabalhistas?

Qualquer um que precise, ora bolas!

Eu, por exemplo, trabalhei numa produtora de cinema, institucionais e documentários entre abril de 2005 e agosto de 2006, sem qualquer vínculo formal. Quando meu antigo patrão resolveu me dispensar, já que a empresa dele estava prestes a "quebrar", não recebi nada. Nenhum benefício assegurado por lei. Nada mesmo.

O que eu fiz?! Nada, infelizmente. Se tivesse tentado qualquer coisa no campo legal, poderia ter mesmo "queimado meu filme", já que o mercado audiovisual aqui é tão provinciano quanto o é a Cidade Modernista; e meu antigo patrão é referência na produção executiva de longas-metragens aqui.

Com ele, já trabalhei em set de filmagem por 22 horas, ininterruptamente, como assistente de platô. Das 5 às 3 da manhã do dia seguinte: a diária mais "punk" que encarei no cinema, suficiente para desistir da pretensão de ser cineasta. Ser cineasta é mesmo profissão de pequeno-burguês que trabalha que nem peão, e vive do glamour conferido às atividades cinematográficas. Tudo peão. Menos o roteirista, claro!

Eu sou documentarista. Não sou cineasta. Mas privado de dinheiro depois de três meses desempregado, com aluguel atrasado e dívidas, senti-me coagido a voltar a dar aulas de inglês como língua estrangeira, que paga pouco e exige muito.

Foda! Puta que pariu. Vou ter mesmo que passar no concurso da ANVISA. Ou Itamaraty, se passar no TPS.

There's room for you inside - Pink Floyd

2 comentários:

Marcelo Grossi disse...

Não passei na prova do Itamaraty nem da ANVISA...

Marcelo Grossi disse...

E até hoje eu não passei em nenhum dos concursos que eu fiz...