terça-feira, 21 de abril de 2009

O bicho-homem é o lobo do bicho-homem

Há 49 anos, os candangos - brasileiros pobres de todas as regiões do país - celebravam o cumprimento da empreitada que lhes cabia: erguer a Cidade Modernista no ermo do Planalto Central. As quedas diárias de andaimes, os massacres de operários, os corpos misturados ao concreto armado, os mortos enterrados em valas comuns: tudo isso tornou-se nada. Rendeu alguns filmes que ninguém viu, bancados pela Lei Rouanet ou pelo Programa Petrobras Cultural: jogo de cartas marcadas. E JK entrou para a História como grande estadista - rendeu até minissérie na Rede Globo - e foi morto pelos milicos, que nem em filme de Hollywood.

Hoje, dia 21 de abril, é feriado nacional. Além da inauguração de Brasília, também comemora-se o Dia de Tiradentes, quando enforcaram e esquartejaram Joaquim José da Silva Xavier. A intelligentsia mineira envolvida na Inconfidência, quase como Pilatos, teve as mãos lavadas. Mataram o tira-dentes e pouparam os aristocratas. Alguém tinha que morrer para dar o exemplo, e não matariam o "Dirceu de Marília", claro. Assim como, quase três séculos mais tarde, não seria o Zé Dirceu que daria o exemplo...

Há 24 anos, José Sarney "matava" o presidente Tancredo Neves, no Hospital de Base, em Brasília. Antes de se tornar imortal da ABL, além de imortalizar o bordão "brasileiros e brasileiras", Sarney levou o país à bancarrota, contribuindo sobremaneira para a eleição de Fernando Collor: o marajá que a propaganda política dizia que acabaria com os marajás, tipo o Sarney. Acabou sofrendo um impeachment por corrupção. Pior, ainda hoje tem idiota que acredita que os cara-pintadas - o maior factóide da primeira metade da década de 1990 - tiveram algum papel nisso. À época, os que não eram mera massa de manobra - a maioria -, ou estavam lá pelo dia longe das escolas, com direito a álcool e drogas - os mais "espertos" - ou pela carreira política que almejavam - os estudantes profissionais da UBES e da UNE.

Coisa de Brasil, vocês sabem. Aliás, amanhã é o dia da grande farsa: o Descobrimento. Descobrimento por quem, cara pálida? Achamento do Brasil, no máximo, pela cruz e pela espada. Ainda bem que, naquela época, não tinha show da Xuxa para comemorar coisa alguma...

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