A Lêdo Ivo, imortal
Eu jurei à morte me calar
mesmo sabendo que jurar é pecado
como ensinou minha mãe
Eu prometi, então, à morte me calar
e só assistir a tudo em silêncio
soturno, canhestro
puro/impuro
interdito do medo
que é o pior
e o melhor de mim
Eu quis à morte me calar
a jurar à morte, com os olhos, enfim, por paz
Eu não quis mais esse eu apodrecido:
meus pulmões oxidados
meus rins obsessivos
meus olhos cansados de olhar por trinta anos
e, ainda assim, não enxergar nada
Eu quis esquecer e nunca mais escrever
a verve que pulsa incandescente
sob a razão que envilece
e o amor que liberta
Eu aprendi as regras e as exceções do uso da crase
antes de ter certeza dos fins e das finalidades
dos princípios e dos meios da poesia e da vida
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