quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Memórias da minha mãe (por ela mesma)

Foi ali, em Iguatama, que Nair aprendeu a fumar. Diziam que espantava os mosquitos, pesadelo daqueles dias. Foi ali, também, que conheceu o Tino Motta. Depois de uma partida de vôlei entre as equipes de Piumhi e Iguatama.

Quando colocou os olhos na professorinha de um metro e meio, esbelta, graciosa, Tino disse para seu amigo: “Vou me casar com ela”.

O namoro começou ali, mas muita água rolou debaixo da ponte até chegar aquele dia.

A família de Nair mudou-se para a capital depois que o sagitariano, perdulário, perdeu quase tudo no jogo. Alugaram um sobrado na av. Bernardo Monteiro, montaram uma fábrica de doces na periferia e foram à luta. A década de 40 despontava.

Nair abandonou a carreira e mudou-se para Belo Horizonte, a pedido dos pais. Revezava-se com as duas irmãs no trabalho doméstico: limpeza, cozinha, roupas, compras. A mãe e o pai trabalhavam na fábrica; os dois rapazes cuidavam das vendas.

Tino Motta, filho de pai abastado que perdeu tudo no jogo, sem estudo, como seus vinte irmãos, passou dez anos tentando ganhar dinheiro para casar-se com Nair. Foi boiadeiro, garimpeiro, padeiro, vendedor de seguros. Nunca desistiu do sonho de encontrar um diamante no Rio São Francisco.

Estava no velho Chico quando soube que Nair, descrente dos dez anos de namoro a distância, ficara noiva de um médico da capital. Desesperado com a notícia volta a Belo Horizonte, com a cara e a coragem, e pede Nair em casamento.

Nair, aos vinte e oito anos, e Tino, aos trinta e quatro, casam-se em Belo Horizonte.

Rosangela Dias Motta
BH - MG - 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa parte já li duas vezes... gosto muito!