sábado, 6 de dezembro de 2008

Feliz 2008!

Há quase um ano, meu amigo Celso Lungaretti, na iminência do raiar de 2008, desejou que todas as utopias se realizassem no ano vindouro, agora prestes a terminar. Lungaretti é um sujeito que nunca vi, com quem só falei por telefone e por e-mail, mas que me dá a impressão de ser um velho companheiro, apesar de ter mais idade do que meu pai: que nunca foi meu companheiro. Nunca!

Lungaretti escreveu o "Náufrago da Utopia", objeto de breve resenha nos primórdios desse blog (quase) em desuso. Em última instância, meu blog praticamente só existe porque o Lungaretti existe e conheci sua história. Afinal, sou apenas outro náufrago da utopia: um tipo que subverte o real para, a partir do não-real, redefinir os limites da própria realidade.


Haja catarse para seguir vivo. Que o digam companheiros como o Lungaretti. Sobretudo aqueles que sobreviveram ao DOI-CODI, ao DOPS e tantas outras siglas da Repressão que, de tão humanas - no sentido falho, vil e sádico -, trataram com tanta crueza aqueles que se impunham contra o Estado de Exceção, cuja manutenção dependia das mesmas siglas.

Mas como, leitor, chegar vivo até 2009 se 2008 foi barra tão pesada? Como sublimar, por exemplo, o casal Nardoni e a pequena que foi arremessada pela janela? E eu, que sempre pensei que o meu pai era um filho da puta, como fico?! Como aceitar que Oficiais do Exército, na vigência do Estado Democrático de Direito, entreguem traficantes a rivais de outro morro? Como abstrair o seqüestro e o assassinato de Eloá Pimentel e os desdobramentos, midiáticos ou não, de mais um caso trágico de violência envolvendo a banalidade da morte? Como se calar diante das dúzias de mortos nas enchentes em Santa Catarina, tal qual fossem eles culpados pela ocupação de áreas de risco e essa mera explicação técnica, um paliativo a menosprezar tanta dor, sem qualquer solidariedade? Como aceitar um feliz 2009 se, em 2008, não tivemos muitos momentos felizes, para além da contemplação do nosso próprio umbigo?


Catarse, meus caros. Encarar 2008, no apagar das luzes, como algo feliz, imagino. E, ao final de 2009, daqui um ano, depois de todas as tragédias que, certamente, acometerão cada um, o Brasil e o mundo, ao invés de desejar ao próximo um "feliz 2010", deseje um "feliz 2009".

Então, caro leitor, feliz 2008. E que as utopias, se possível, se realizem no ano que vai nascer...

2 comentários:

celsolungaretti disse...

Marcelo,

um dos filmes que mais me marcaram, em todos os tempos, foi "Quando Explode a Vingança", do grante Sergio Leone.

Primeiramente, pela visão que Leone dá da revolução, feita pelas pessoas simples e deturpada/traída pelos dirigentes.

É corrosiva a ironia do dinamitador irlandês (James Coburn), referindo-se a personagens que ele sabe serem duvidosos como "grandes e gloriosos heróis da revolução".

Também conheci alguns grandes e gloriosos heróis da revolução. E confesso que só a um eu aplicaria essa adjetivação sem nenhuma mordacidade de minha parte: Juarez Guimarães de Brito.

Também senti muita afinidade com o personagem do irlandês, tão desencantado com a revolução mas incapaz de viver longe dela.

É como sempre me senti, desde que caí numa armadilha da História e tive de conviver com uma má reputação que não merecia.

O drama pessoal nunca foi suficiente para abalar minha convicção de que a revolução é necessária e premente.

Então, apesar de quaisquer decepções, seguirei adiante, defendendo "o reino da liberdade, para além da necessidade" que Marx me fez vislumbrar.

Mas, de uma forma diferente, melancólica, sofrida. Pois constatei que são poucos, bem poucos, os que conseguem colocar-se à altura dos ideais que apregoam.

Restam-me os princípios. E é neles que eu busco ânimo e força.

Marcelo Grossi disse...

Grande Lungaretti!